Maktub

Maktub - Seraphicetica Blog

_ Nossa, você por aqui?
_ É. Faz tempo, né?
_ A que devo a honra?
_ Só passando para ver como estão as coisas. Não mudaram muito, né?
_ Diga-me você. O que tem feito?
_ Eu tenho tentado. Tentado muito.
_ E o que tem conseguido?
_ Seria injusto dizer que não tenho conseguido nada. Na verdade, consegui muitas mudanças positivas na minha rotina. Estou me exercitando com mais frequência, me alimentando melhor, estudando assuntos que me interessam e até aprendendo alguma coisa apesar de sentir que a memória já não é mais a mesma. E você? O que tem feito?
_ Ah, eu já perdi essa mania de querer mudar o mundo. Eu só vou levando a vida, um dia de cada vez e observando o que surge.
_ E tem surgido algo?
_ Às vezes, sim, outras não. Quando não aparece nada eu aprecio o que já existe. Existe muita beleza naquilo que a gente ignora, sabia?
_ É já ouvi dizer, mas se a gente ignora não tem como ver, né?
_ É. O que você tem ignorado ultimamente?
_ Acho que eu tenho ignorado o que eu realmente quero. E não se trata de ignorar no sentido de não dar importância. Tá mais para ignorar de não saber mesmo. Com a idade que estou eu meio que me cobro o fato de ainda estar perdida. Eu sei, você vai dizer que é normal se sentir assim e que todo mundo passa por isso. Só que eu não quero ser todo mundo, entende? Não me importa se um milhão de pessoas também se sentem assim, eu quero é a solução pra isso.
_ Então é isso que te traz aqui hoje? A insatisfação com seu status quo?
_ Não. Isso eu já meio que perdi as esperanças de mudar. Eu vim porque não tinha nada para fazer mesmo. Você já ouviu falar em determinismo?
_ Aquela história de que a vida é um jogo de cartas marcadas, de que tudo já está escrito, Maktub?
_ É. Você acredita nisso?
_ Acho que não se trata de acreditar. É um conceito, como tantos outros que existem sobre o porquê de se estar vivo. Você deve pensar sobre as implicações de se acreditar nesse conceito específico. O meu parâmetro é sempre este: Essa crença vai te fazer feliz? Porque se não vai, talvez seja melhor optar por outra. O que você me diz disso?
_ Tendo a concordar contigo. Racionalmente, tendo a concordar contigo, mas emocionalmente eu preciso encontrar uma explicação para tudo que não saiu conforme eu planejei.
_ Você percebe que está tentando controlar aquilo que não depende só de você? Já tivemos essa conversa em outros momentos, lembra?
_ Pôxa! Mas parece que nada está sob meu controle. De que adianta eu dar conta de tudo que depende só de mim se o que não depende me engole. Parece que estou tirando água do mar com a peneira.
_ E talvez esteja mesmo. E daí? Você está fazendo a sua parte, isso deveria ser suficiente. Ou será que no fundo você sabe que poderia fazer um pouco mais e está se escondendo atrás de conceitos como o determinismo?
_ Você é foda! Putz! Acho que é isso mesmo. É medo, né? Medo de seguir em frente, de fazer e acabar acontecendo. Mas, olha, determinação não me falta, não. Acho que me falta é voltar acreditar que é possível. Como que eu faço para voltar a acreditar?
_ Observe a Natureza. É possível um pássaro voar, uma montanha surgir, um rio fluir, a chuva cair, uma criança nascer. Você foi possível, você aconteceu e está aqui. Olha que pessoa genial que você se torna a cada dia. Olha para as coisas que já conquistou. Olha tudo ao qual você já sobreviveu. Eu sei que você está cansada. Descanse e aprecie o prazer de ser quem você é.
_ Essa angustia vai passar, né?
_ Vai, sim. Você sabe que passa.
_ Obrigada pela conversa. E obrigada por estar sempre aqui pra mim.
_ De nada. Faça isso mais vezes. Você precisa se expressar mais. Não se esconde do mundo, não, tá?
_ Tá.

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