Fone e suporte |
Eu comprei um fone sem fio há uns meses. Os fones sem fio geralmente vem com um suporte de orelha para fixá-los e impedir que se desloquem com a movimentação da cabeça. Pois bem, o que vou relatar hoje beira a burrice, mas é bem ilustrativo de como o tempo, a experiência e a ousadia são primordiais ao avanço do aprendizado.
Eu tentei encaixar o suporte no fone, no local que eu achei mais lógico, entretanto, o suporte não encaixou com facilidade e eu fiquei com receio de forçar e quebrá-lo. É de plástico. É frágil. Então pensei que o encaixe seria em outra parte. Foi o que fiz. Ficou meio frouxo, mas parecia segurar (Fig.2). E assim fiquei meses a fio, usando aquele suporte meio capenga. Até que resolvi usá-lo para minhas caminhadas/corridas diárias e, claro, ele começou a cair da orelha durante meus treinos, o que me atrapalhou e irritou bastante.
Cheguei em casa após um treino e pensei: Não é possível! Tem de haver um jeito disso funcionar direito. Matutei, matutei. Pensei em amarrá-lo com uma borrachinha daquelas de prender dinheiro. Não tinha nenhuma em casa. Então resolvi colocar uma fita crepe em volta dele. Funcionou! Mas a fita incomodava a orelha.
Peguei o fone e o suporte. Olhei. Olhei. Pensei. Pensei. Já estava perdendo as esperanças quando resolvi forçar o conector contra a região que a priori parecia a única opção certa (Fig.1). Já não me importava mais se iria quebrar. Meti o conector lá e ouvi “treck”. Encaixou! 🙂
Fig.1 |
Fig.2 |
E como eu adoro analogias, não poderia deixar de relacionar essa experiência com outras áreas da vida. Eu levei cerca de três meses para entender que havia um jeito certo de encaixar o suporte (TEMPO). Tive de experimentar e testar formas de usufruir do aparelho (EXPERIÊNCIA). E tive de arriscar quebrá-lo para finalmente conseguir usá-lo em sua totalidade (OUSADIA).
O local para encaixar o suporte era óbvio. Mas eu relutei. Desisti na primeira tentativa por medo de quebrá-lo. Procurei caminhos alternativos que me atenderam por um determinado tempo. Mas só a forma correta foi realmente satisfatória. Eu aprendi com essa experiência que nem sempre estamos preparados para o óbvio. Que o aprendizado passa por fases e que devemos ser pacientes conosco e com nossos processos e, consequentemente, com os processos dos outros também. Todo mundo, por mais inteligente que possa parecer, tem seus momentos de estupidez. Aliás, chamar de estupidez é até injusto, porque, na verdade, é apenas o primeiro passo do processo de aprendizagem.
Ah, e para quem está se perguntando o por quê de eu não ter lido o manual, é simples: eu comprei da China e o manual não tinha desenhos (daí o medo de quebrar).