Boa tarde, Melancolia!

– Oi.
– Oi. Faz tempo, hein!
– É. O tempo que você precisava. Agora estou aqui de novo.
– Que bom! Achei que dava para viver sem você, mas me enganei. Como sempre.
– O que está pegando dessa vez?
– Dessa vez? Parece que você não me conhece, né? É o de sempre. Esse vazio no meio do peito. Essa vontade de não sei o quê. Se ao menos o dia inteiro fosse aquela luz de entre 16h30 e 17h e eu pudesse ficar ali para sempre.
– É. Mas não é e você não pode. Vai ter de arrumar um outro refúgio ou vai ter de encarar a sua vida como ela é. E por falar nisso…tá tão ruim assim?
– Minha vida? Não. A vida em si é boa. Acho que até melhor do que de muita gente. Tenho casa, comida, amor. As necessidades básicas me são supridas. O problema não está fora de mim. Está em mim. E é por isso que vez por outra eu preciso de você por perto. Você me ajuda a organizar meus sentimentos. Já te agradeci alguma vez?
– Não que eu me lembre. Mas eu não me importo. Pode ter certeza que nós duas sempre saímos ganhando algo desses encontros. Não há o que agradecer (ou se desculpar).
– Pois é. Vou tentar te descrever o que estou sentindo hoje. Imagina que você precisa de um tema para desenvolver seu pré-projeto para o Mestrado. Aí você segue todas aquelas dicas dos livros de “como escrever uma tese”; faz um monte de recortes de jornais e revistas, junta vários livros sobre o que pretende estudar, espalha tudo ao seu redor e fica esperando a tal ideia que vai mudar o rumo de sua vida. Só que passa uma hora, um dia, uma semana, a vida e ela não vem. Ou então, te vem a grande ideia. Você fica toda empolgada. Escreve o pré-projeto e apresenta ao seu tutor, feliz da vida, e ele te diz que sua linha de pesquisa não atende às necessidades da instituição. É assim que me sinto!
– Entendo. Deve ser difícil lidar com a rejeição.
– É. Estava evitando a maldita palavra. Mas como sempre, você é certeira e vai direto na ferida. É impressão minha ou a vida parece te dizer não o tempo todo? Será que eu estou fazendo algo de errado?
– Já ouviu falar em expectativa? Talvez você espere demais das pessoas, das situações, do destino, de si mesma. Tente diminuir as expectativas.
– Como se faz isso?
– Primeiro entenda que você não é a única perdida nesse mundãozinho. Logo, não dá para esperar que um perdido possa te achar. Segundo, lembre-se que você só pode controlar seus próprios atos. É inútil tentar dominar as situações e pessoas alheias a você. E por último, dê uma atenção a si mesma. Identifique seus pontos fortes e fracos. Conheça seus limites físicos e emocionais e não tente ultrapassá-los sem treino. Tendo isso em mente acredito que você consiga diminuir suas expectativas e consequentemente esse buraco no peito vai se tornando menor.
– Ah, Melancolia, você é tão sábia. Em pensar que já tentei me livrar de você diversas vezes. Agora entendo que você é só um tempo do qual preciso para relembrar o óbvio e continuar vivendo. Eu sei que não precisa, mas…Obrigada!
– Não há de quê. Estarei sempre ao seu dispor.