Para quem não sabe, spoiler é um termo em inglês que significa aquele ou aquilo que estraga algo. Vem do verbo to spoil, ou seja, estragar. É usado para se referir a um comentário sobre um filme ou história que antecipa acontecimentos, estragando a surpresa daqueles que ainda não assistiram ou leram a tal história. Há pessoas que tem verdadeira ojeriza em saber qualquer coisa sobre um filme de antemão e é por isso que muitos artigos sobre filmes, séries e livros colocam um aviso de spoiler no início do texto.
Hoje me ocorreu que estamos vivendo o maior spoiler de todos e nem nos damos conta. Se eu lhe perguntasse qual é a única certeza que temos na vida, qual seria sua resposta? Exatamente! A única certeza que temos na vida é que, pelo menos atualmente, não sairemos vivos dela. Todos morremos no final da nossa história. Já ouvi dizer que essa é a grande maldição do ser humano. Até que se prove o contrário, somos a única espécie que sabe que vai morrer. Nossa consciência, nosso raciocínio nos levou a essa conclusão inquestionável.
E aí? Saber disso faz ou deveria fazer alguma diferença na sua vida? Eu me pego bem incerta nas minhas elucubrações sobre isso. Às vezes me questiono:
_ Será que vale a pena manter uma postura saudável, praticando exercícios, comendo legumes, verduras e frutas, dormindo cedo, privando-se de certos prazeres, etc, quando sabe-se que a qualquer momento você pode simplesmente deixar de existir?
_ Se você fosse morrer daqui a 5 minutos, ler este texto seria realmente a última coisa que você gostaria de ter feito?
Provavelmente, não, mas por outro lado, o que mais você poderia fazer além do que já faz? Ter certeza de quando você vai morrer mudaria o que na sua rotina?
A primeira vez que este pensamento me ocorreu foi quando pedi demissão e cumpri o aviso prévio. Eu sabia que dali a 30 dias minha rotina mudaria completamente. Eu não conviveria mais com aquelas pessoas e nada daquele lugar teria mais qualquer relação comigo. E o que eu fiz nesses 30 dias? Exatamente o que tinha de ser feito. Cumpri meus horários e minhas tarefas como de costume. Porque era exatamente isso que havia para ser feito e era exatamente isso que esperavam que eu fizesse.
Esta argumentação pode soar melancólica, mas não é esse o tom que desejo dar. São questionamentos puramente filosóficos de quem está tentando fazer algum sentido desta loucura sem pé e nem cabeça que é viver. Quando você para para analisar friamente a vida, pouquíssima coisa faz sentido. Concorda comigo? Então você nasce, cresce, reproduz (ou não), envelhece e morre. E tem sido assim desde que o mundo é mundo. Tudo bem que a expectativa de vida tem aumentado exponencialmente e pode até ser que um dia tenhamos a vida eterna por aqui mesmo, sem ter de subir ou descer, como defendem alguns. Aí sim, fazer tudo certinho para preservar o corpo faria todo o sentido, não seria nada legal viver eternamente com diabetes ou qualquer outra doença.
Isso me lembrou duas referências bem bacanas sobre o assunto. Uma é o filme A MORTE LHE CAI BEM e a outra é o livro, do já, infelizmente, falecido José Saramago, intitulado: AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE. Este último merecendo um spoiler:
Ele conta a história da Morte que atua num determinado país e se aborrece por todos reclamarem dela e por isso decide não matar mais ninguém por lá. Há um verdadeiro caos no vilarejo. Os donos de agências funerárias se revoltam. Os familiares de doentes terminais começam a levar seus parentes para morrer no país vizinho, num verdadeiro contrabando de moribundos e todos começam a entender a necessidade de se morrer.
Apesar de eu não ter gostado do final (pode deixar que eu não vou contar), é um livro que eu recomendo. Aliás, qualquer livro de Saramago vale umas horas de entrega, mesmo que sejam suas ultimas… 🙂
Vou ter de deixar este texto sem conclusão. Acho que a gente vive é de teimoso mesmo, mas quem sou eu para concluir isso ou aquilo sobre um assunto tão complexo? Enquanto isso…Vamos esperando (ou escrevendo) as cenas dos próximos capítulos.