Sem Garantias

Sem garantias

Hoje é dia 27 de junho de 2017. Faltam exatos 3 dias para minha cirurgia de retirada da vesícula biliar. Ela produziu pedrinhas e para evitar um mal maior eu vou, preventivamente, cortar o mal pela raiz.
Minhas pedras foram identificadas em 2012, fazendo exames de rotina. Tudo me faz crer que elas se criaram devido ao processo rápido de emagrecimento pelo qual passei em 2010, dois anos após ter dado a luz ao meu amado filho. Das causas apresentadas como prováveis para se desenvolver pedras, essa foi a única com a qual me identifiquei.

Hoje, dia chuvoso, acordei meio indisposta e estou com uma leve dor de cabeça. Fiquei em casa e resolvi assinar os documentos de autorização para a cirurgia. É muito difícil manter a calma enquanto se lê tais documentos. Em resumo, eles dizem que vão fazer o possível para que tudo corra bem, mas que não há garantias nem que o tratamento vai dar o resultado pretendido e nem que não haverá complicações durante o procedimento. Ou seja, não há garantias de absolutamente nada. E entre as inúmeras ocorrências possíveis está também a fatal: “perda de vida”, eufemismo que o redator adotou para não ser tão direto e usar a famigerada e definitiva palavra “Morte”.

Daí você para por uns minutos e pensa: eu tô aqui, respirando, vivendo, bem, na medida do possível, com alguns incômodos digestivos que nem sei se são por causa da vesícula, mas se eu não fizer a tal cirurgia pode ser que um dia (amanhã ou nunca) essas pedrinhas se desloquem e obstruam o canal do duodeno causando infecções e inflamações que podem me levar a grande sofrimento e a uma cirurgia de urgência e de alto risco devido às condições físicas desfavoráveis. Ou seja, se eu não extrair a vesícula, eu também posso morrer. E daí você pensa que pode sair para ir buscar o filho na escola e ser surpreendida com uma bala perdida no meio da testa, ou você pode pegar um ônibus de viagem e bater contra um caminhão que carrega um bloco de granito e seu ônibus pegar fogo e você morrer queimada enquanto um monte de gente filma e tira fotos para postar na internet. Ou você pode estar escrevendo um texto para por em seu blog e ter um ataque fulminante qualquer. Como dizia minha saudosa avó: “Para morrer, basta estar vivo”. E de uma certa forma isso te tranquiliza.

É. É muito doido isso, mas após refletir e chorar e dar vazão ao meu medo de morrer e não ver meu filho crescer e não aprender tudo que eu tenho vontade de aprender e não fazer tudo que eu tenho vontade de fazer, depois de aceitar que isso tudo me é muito caro e que eu não gostaria de morrer, assim, incompleta, eu senti uma certa paz. Não a paz de ter certeza de que vai correr tudo bem, mas a paz de ter certeza de que não tenho controle sobre nada disso, logo não há nada que eu possa fazer a não ser viver, enquanto der.

Conclusão:
Para morrer, basta estar vivo e para VIVER também. 🙂

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