O Encontro

Passion led us here

Ela chega na porta do estúdio e logo cruza o olhar com ele. Seus olhos brilham mutuamente. Ambos sabem o porquê dela estar lá. Ela não admite para si mesma que foi porque se sentiu atraída por ele desde a primeira vez que o viu. Ela odeia ser vítima de seus sentimentos e sabe que quando desencadeia um sentimento por alguém quer ir até o fim. E sabe que não vai chegar lá porque é sempre a única que tem coragem de tentar. E não se faz amor sozinha…

Mas desta vez ia ser diferente, disse para si, tentando acreditar. Ela já sabia de toda a teoria acerca da paixão. Sabia dos hormônios envolvidos e dos pensamentos recorrentes e do sonhar acordada e dos sorrisos bobos sempre que o via ou pensava nele. E das palpitações e do suor nas mãos e do gaguejar ao estar em sua presença. E o tesão da madrugada e dos pensamentos e maquinações que sempre envolvia estar com ele. Desta vez, não. 

Ele veio cumprimentá-la. O sorriso era aberto e receptivo. 

Oi. Você por aqui? Que surpresa boa!

_Talvez não.

_Como assim?

_Eu vim para me decepcionar com você. Por favor, já me diga de cara os seus defeitos, seus medos, o que você faria se eu precisasse de sua ajuda, como você lida com os problemas. Tem mau hálito? Chulé? Flatulência? É Bolsominion? Lula-livre?

Por favor, acabe de uma vez por todas com qualquer ilusão que eu poderia criar de você. Não quero me apaixonar e passar por todo aquele processo chato para no fim descobrir o óbvio. Por favor.

_Você está bem? Por favor, acabe de chegar. Senta aqui. Vou te buscar um copo d’água.

Ele, atordoado, e sem saber muito o que pensar, vai buscar a água. Que mulher é essa? Que explosão. Que intensidade. A vontade que ele tinha era calar-lhe a boca com um beijo. Agarrá-la e sumir para algum paraíso perdido e se perder com ela mundo afora. Mas, calma, ele também já estava calejado. Já conheceu muitas malucas e estava sozinho. Também tinha medo.

Voltou com o copo d’água e o entregou a ela. Olhando um nos olhos do outro como que se ímãs fossem, ela pega o copo e agradece.

_Obrigada. Desculpe. Estou atropelando as coisas, né? É esse meu jeito imediatista de ser. Eu não quero perder tempo. A vida é curta e eu quero viver tudo que eu puder pra ontem. Te assustei?

_Não sei dizer. Acho que te entendo.

Os dois se olham longamente como se pudessem manter um diálogo interno. Como se soubessem o que cada um realmente queria.

Ele rompe o silêncio.

_Eu tenho cc. Mas é só em dias que suo muito e esqueço de passar o desodorante. Mas depois do banho passa. 

Os dois riem.

Ela responde.

_Ok. Isso não chega a ser um problema. Acontece nas melhores famílias e se você costuma tomar banho já é meio caminho andado.

_E você? Ele pergunta.

_Eu o quê?

_Por que não devo me apaixonar por você?

_Porque se você o fizer corre o risco de ter a melhor experiência da sua vida e nem todo mundo está preparado para ter o que sempre quis.

_Tarde demais. Já me apaixonei! Desde quando ouvi sua voz resoluta ao telefone dizendo que estava a caminho, mesmo debaixo de chuva. E mais ainda quando a vi chegar como se já conhecesse o lugar e as pessoas. Tão naturalmente familiar, tão confortável e segura de si. E me apaixonei novamente quando você revelou todo seu talento com a entrega total ao que se propôs a fazer. E desde então, minha curiosidade aguçada não me permite esquecer da sua presença intensa que enche até o ambiente mais sombrio com sua luz. Eu já sou todo seu. 

Ela se engasga. Não esperava ouvir uma declaração dessas assim de cara. Nunca antes havia acontecido. Ela sempre amou sozinha. Seria esta a aventura que ela sempre sonhou na vida? 

Ela preferiu não pensar muito. Levantou-se e o abraçou. Eles se abraçaram como se já se conhecem há anos. Como se já vivessem um grande Amor. E deram o seu primeiro beijo. Esse foi um momento de pura ternura. Seus corpos estavam tão à vontade um no outro que nada daquilo parecia anormal, embora fosse totalmente inusitado. Esse momento durou a eternidade que ela sempre quis. Teve a intensidade que ela almejou e agora que eles estavam prestes a terminar o beijo e se encararem, ela quase desejou morrer para que a vida não tirasse isso dela.

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